por: Kalu
Basta uma dor de cabeça, uma cólica menstrual, uma gripe que as pessoas sempre têm a mão um medicamento para silenciar a dor para que possam seguir a vida. Os anestésicos medicamentosos ou em forma de drogas lícitas e ilícitas parecem tirar a consciência do mundo presente e são sempre tomados sem consciência de suas conseqüências.
Em um país em que as pessoas cortam o corpo por motivos estéticos ou se deixam submeter sem grandes questionamentos a uma cirurgia para extrair o bebê, não é a toa que aceitar a dor do parto pareça uma loucura descabida.
E tudo começa bem cedo na ignorância dos processos orgânicos. Na primeira febre do bebê, aos 38 graus um anestésico com um medicamento para baixar a febre mascara e interrompe um processo fundamental para o amadurecimento do sistema imunológico da criança.
Talvez tudo comece muito antes, afinal, muitas mulheres se submetem a uma cesariana com uma dose cavalar de anestesia que atinge a corrente sanguínia do pequeno corpo. E na recuperação do que muitas dizem ser “cesárea maravilhosa” doses fortes de anestésicos, antiinflamatórios fazem parte do cardápio dos bebezinhos que recebem tudo isso através do leite materno.
Dia após dia há uma fuga das dores do corpo e da alma e a proteção para que nossos filhos fiquem protegidos das mazelas do mundo. Há quem diga que nascer de parto normal é sofrer. Que o melhor parto é aquele que causa menos sofrimento para mãe e bebê. Na verdade, como lindamente disse a Tata, confundimos dor e sofrimento. A dor da respiração, do ar que pela primeira vez entra nos pulmões, é o que nos faz vivos fora do meio aquático. A dor do parto nos transforma. As superações da amamentação é que cria um novo caminho interior que nos mostra que viver é ir além.
Na contramão, nossa sociedade valoriza os maratonistas, os aventureiros que cruzam os oceanos vencendo os medos, a dor, a fome. Parece que conhecer a história de homens e mulheres que se superaram nos ascenda a lâmpada que diz: você e ele são iguais, então você também pode.
Teoricamente, 85% das mulheres estariam aptas a parirem normalmente sem anestesia. Apenas 15% precisariam de intervenções para ter seus filhos vivos nos braços. Mas o medo da vida (e da morte) leva muitas mulheres a escolherem um caminho aparentemente mais fácil, em que os processos estão nas mãos de outro (assim como as responsabilidades) e a anestesia bloqueia a consciência maior que é o ato de parir e do pós-parto.
Claro que muitas vezes a cesárea é necessária. Mas em raros casos (pois são poucos os obstetras que são verdadeiramente a favor de um parto natural). Eu não posso acreditar que quase 90% das usuárias do serviço privado de saúde tenham problemas para parir (o problema é o sistema).
E nesse bloqueio mediado por medicamentos que anestesiam a sociedade desde o nascer, até a hora de morrer, tragédias cotidianas se tornam banais e a ação se torna lenta, na velocidade da falta de tomada de consciência.
Parir sem anestesia em casa é um ato de coragem. Por que para chegar a esta decisão é preciso desconstruir muita coisa, deixar morrer mitos, medos. E na dor de cada contração, aprender a se entregar a uma função orgânica de hormônios que bailam com uma cascata de sensações. E no fim, saber que superar a dor pode levar a uma nova significação da existência. Assim foi aqui e este marco da minha vida me ajudou a inúmeras superações internas.
Olá!
Mudamos de endereço.
Você pode nos encontrar em www.blogmamiferas.com.br a partir de agora.
7 comentários:
Kalu, não me canso de falar: adoro os seus textos!!
Para mim, a anestesia da minha vida cessou há 12 anos quando conheci meu marido e me tornei homeopata. Eu, hipocondríaca declarada, doente assumida (sim, porque os médicos sempre achavam uma doençazinha...), conheci um outro lado da vida.
E que alívio me livrar dos voltarens da vida, da aspirina, da neosaldina diária, das amoxilinas nas dores de garganta. Nossa, como podia imaginar uma vida sem tudo isso? Pagar plano de saúde era prioridade!
Até que achei a Dra. Adeli Ferreira, uma homeopata fantástica, que faz parte do grupo Bento Mure aqui em São Paulo, e fui mudando completamente a minha vida e passei e viver, não mais sobreviver.
Quando me tornei homeopata eu já era portadora de uma LER que me fez perder 70% da capacidade laborativa da mão direita, e hoje, graças à homoepatia, reflexões e transformações profundas, massoterapia constante, minha mão voltou a funcionar e é um alívio não ter dores diárias e constantes.
As enxaquecas frequentes hoje são muito esporádicas, e a mulher que teve o ovário esquerdo arrancado numa cirurgia aos 18 anos e cujo útero "retrovertido ao contrário" (sim, era o que o médico ginecologista da família há anos me dizia) jamais permetiria gerar e "segurar" um bebê, pariu em casa sem anestesia ou qualquer remédio, num parto que durou 1h52 uma linda menina que hoje tem 3,6 anos de idade e agora está gestando um menino, já com 22 semanas, e que tb vai nascer em casa!
Sair do sistema de anestesia total é mesmo o que você falou: é sair da anestesia da vida, mudar os remédios é mudar os conceitos, a forma de viver, alimentar, o que assistir, o que ler, o que buscar.
Na verdade, uma tremenda reforma íntima.
E hoje sou grata porque a Sofia nunca foi a um hospital e nunca tomou nenhum remédio alopático na vida, igual aos irmãos, meus enteados a Marina com 18 anos e o Maurício com 21, e o pai que tem 51 anos.
Se nós conseguimos viver bem sem os remédios que mascaram os sintomas que nossos corpos precisam para viver, sem suprimir os sintomas que estão dentro de nós, é possível cada um que quiser seguir esse caminho tb. Basta escolher a pílula certa!
Beijão
Tudo de bom seu texto, como sempre.
Penso exatamente igual vc.
Bjooo
Nós somos uma sociedade que evita a dor a todo instante, não somente a dor física, mas tbm a dor psíquica... ou podemos inverter isso, estamos tão preocupados em viver cada minuto de prazer que acabamos deixando passar alguns prazeres não tão comuns!
Menina arrasou de novo, BINGO!
Esse negócio de se auto-medicar é no mínimo um crime. As pessoas deveriam escutar melhor suas dores e procurar decobrir a verdade que há por trás delas ao invés de simplesmente tomar analgésicos. O pior é quando esse ato é praticado nos pequeninos, concordo contigo!!
Beijocas,
Cris João
(www.recomadres.blogspot.com)
Eu sonhei com meu parto natural, mas com 7cm de dilatação e 16h de TP eu pedi a anestesia. Até hoje essa anestesia está intalada na minha garganta porque sei que trata-se de uma falha minha na hora de encarar as coisas na minha vida. Na hora eu precisei, aquele era o meu limite. Mas tendo essa consciência, o parto me fez enxergar como ainda preciso melhorar nesse aspecto. Mas pra uma viciada em doces, ex-fumante e que largou os anti-depressivos quando percebeu que aquilo era justamente um tipo de anestesia, de fuga, sinto que estou no caminho certo e já penso no meu proximo parto, dessa vez domiciliar, pra dificultar o acesso aos anestésicos.
Kalu, adorei.
Cada dia faço da não medicação uma prioridade para minha vida e dos meus filhos.
Principalmente quando eu fico doente e testo meus próprios limites não me medicando, mas tratando a alma, a mente, o físico.
Beijão!
Kalu, lindo texto, como sempre, diz tudo que quero falar e não sei como.
É mesmo uma sociedade que não se permite viver com medo da dor. Qualquer dor, mesmo as fisiológicas, as necessárias, "deve" ser reprimida, sanada, que gera adultos inseguros, despreparados, massificados.
A pessoa cresce sem saber como lidar com as adversidades, pq desde o nascimento ela tem um "docinho" pra mascarar uma dor, pra desviar o foco.
Lembro qdo minha pequena era RN e tinha mtas cólicas; lógico que, como mãe eu não queria que ela sofresse, mas tb não queria dar alopatia. A parteira falava assim: "é uma coisa que só ela pode/precisa passar, é necessário pra maturidade do oganismo dela, e se vc privá-la desse obstáculo, estará atrapalhando o crescimento dela". Demos mto colo, banho, massagens, homeopatia, e passou!
Cada vez mais acho que não pertenço a esse mundo!
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